quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Demais /de mais

Demais é advérbio de intensidade, equivale a muito:

Elas falam demais.

De mais é locução prepositiva, possui sentido oposto a de menos:

Não haviam feito nada de mais.

Fonte: Ernani Terra.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Figuras de linguagem: EUFEMISMO

Consiste em substituir uma expressão por outra menos brusca; em síntese, consiste em "suavizar" alguma asserção dasagradável:

Ele enriqueceu por meios ilícitos. (ele roubou)
Você não foi feliz nos exames. (você foi reprovado)
Paulo faltou com a verdade. (Paulo mentiu)

Fonte: Ernani Terra.

sábado, 14 de agosto de 2010

Figuras de linguagem: ANTONOMÁSIA (PERÍFRASE)

Consiste em substituir um nome por uma expressão que o identifique com facilidade:

os quatro rapazes de Liverpool (em vez de Os Beatles)
a Cidade Eterna (em vez de Roma)
o poeta da Vila (em vez de Noel Rosa)

Fonte: Ernani Terra

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Análise crítica - Antologia poética, Drummond

Drummond: uma autobiografia

"Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor de cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos."

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Drummond foi um artesão da forma e, sobretudo do conteúdo. Em 1962, foi convidado a organizar uma antologia de sua própria obra e resolveu dividi-la em nove seções, ou tema recorrentes:

1. "Um eu todo retorcido" - Reúne poemas que têm como tema o indivíduo. o "eu". Em sua personalidade de tímido hipersensível busca situar-se como indivíduo e solucionar suas contradições. A complexidade do "eu" é expressa pelos termos "retorcido", "torto", "curvo", todos muito frequentes em sua poesia . Mário de Andrade, em carta a Drummond, dizia: "[...] é certo que uma pessoa de sua sensibilidade e de sua volúpia de consciência não pode ter a felicidade comum que é feita de insensibilidade e de inconsciência".
"Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."
(poema de sete faces)

2. "Uma província: esta" - Abrange poemas em que se aborda a terra natal, Itabira. Por meio da poesia, resgata o espaço da infância e da adolescência, evocando a vida monótona e feliz da província: as praças, as igrejas, as ruas poeirentas, as fazendas, os carros de boi, as figuras que povoam este mundo.

"Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro."
(confidência do Itabirano)

3. "A família que me dei" - Abrange poemas que têm como tema a família, notadamente o pai. A terra natal, a recuperação da família patriarcal, do passado parecem-lhe fundamental para a compreensão do presente. A relação familiar revela-se tensa, mas o elo de sangue e o amor harmonizam-se invariavelmente em compreensão, ainda que tardia.

4. "Cantar de amigos" - Reúne poemas em que amigos do poeta são homenageados. Os primeiros citados são Manuel Bandeira, Mário de Andrade, Américo Facó (poeta) e Jorge de Lima. Contempla também "amigos" que não conheceu senão pelas obras: Charles Chaplin, Fernando Pessoa, Frederico Garcia Lorca, entre outros.

5. "Amar-amaro" - Abrange poemas que tratam de um dos mais importantes temas do autor: o choque social, o atrito entre o "eu" e o mundo. As iniquidades, injustiças e desajustes do mundo provocam dor e revolta vazadas em versos sociais de grande expressão.

6. "Uma, duas argolinhas" - Reúne poemas que tratam do descobrimento amoroso. O poeta vê o amor, sempre vinculado ao desejo sexual, como algo de que não se pode fugir: o amor sequestra, domina, desequilibra, causa desassossego. Ele dá uma dimensão trágica ao amor, ou banaliza esse sentimento, numa tentativa de neutralizá-lo.

7. "Poesia contemplada" - Reúne poemas em que o próprio fazer poético é tema da poesia em um processo de metalinguagem. Para Drummond a poesia pode ser a chave para explicar o vazio, o imponderável da vida.

8. "Na praça de convites" - Reúne os experimentos formais, jogos lúdicos com a palavra. Em suas incansáveis pesquisas do trabalho poético, Drummond dedicou-se a alguns trabalhos ligados ao Concretismo.

9. "Tentativa de exploração e de interpretação do estar no mundo" - Abrange poemas que procuram expressar uma visão, ou tentativa de existência. Drummond sempre foi um poeta perplexo diante do mundo e de suas contradições. Em inúmeros poemas busca um sentido para a precariedade da vida.

Alguns críticos sintetizam esses nove momentos em quatro fases:

1ª) Poemas mais apegados às influências da Geração de 22: versos brancos e livres, prosaísmo, coloquialismo, humor; predomínio do "eu". Alguma poesia e Brejo das Almas.

2ª) Poemas com predomínio de temas sociais, como o Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial; linguagem um pouco mais clássica. Sentimento do Mundo, José, A Rosa do Povo.

3ª) Poemas com temas sociais e individuais; reúne versos rimados e metrificados, com outros em versos brancos e livres; questionamento do sentido da vida e das coisas, antíteses, paradoxos e contradições. Novos Poemas, Claro Enigma, Fazendeiro do Ar, A Vida Passada a Limpo.

4ª) Poemas cujos temas sintetizam as fases anteriores; ocorre a retomada do humorismo da primeira fase; experimentos formais que incluem o Concretismo. Lição de Coisas.


Nas últimas obras, Drummond cultivou a memória, os amigos, o amor por Lígia Fernandes, e seguiu com o questionamento da vida, dos homens e de si mesmo, mas também apresentou uma novidade: um livro de poemas eróticos: O Amor Natural.
Clenir Bellezi de Oliveira (adaptado).