Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
(Gonçalves Dias em Primeiros cantos - 1847)
1. Quanto ao aspecto formal, observe os vários recursos utilizados pelo poeta para obter o ritmo e a musicalidade: os versos são redondilhas maiores (sete sílabas poéticas); a rima oxítona é bem marcada (lá, cá, sabiá).
2. Aurélio Buarque de Holanda fez uma brilhante análise estilística da "Canção do exílio"; entre outros aspectos levantados pelo crítico, está a total ausência de adjetivos qualificativos, apesar de ser um texto de profunda exaltação da pátria.
3. Em 1909, Osório Duarque Estrada venceu um concurso instituído para a escolha da letra do Hino Nacional. Compare a segunda estrofe da "Canção do exílio" com a seguinte passagem do Hino Nacional:
“Teus risonhos, lindos
campos, têm mais flores;
Nossos bosques têm mais vida,
nossa vida no teu seio,
mais amores.”
Fonte: José de Nicola.
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