O poeta moderno Ezra Pound define literatura deste modo: “Literatura é linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”.
Observe os sentidos que envolvem a palavra flor nestes versos de Drummond:
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
Garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
E lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
‘A flor e a náusea’
A palavra flor, empregada conotativamente, é responsável pela multiplicidade de sentidos do texto. O que ela representa? Como pode uma flor furar o asfalto? Por que, segundo o texto, ela “ilude a polícia”? Sabendo-se que o poema foi publicado em 1945, durante a Segunda Guerra Mundial e durante a ditadura de Vargas no Brasil, seria um elemento que transgride a ordem estabelecida? Seria a flor a metáfora da própria poesia, a poesia de resistência política, ou a metáfora de uma revolução?
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